Naim caiu quase que glacial, gemeu pouco e agudo. O sangue aceso de Naim sobre o meu tapete arroxeado, repleto de desenhos à maneira dos persas. Deus, ficamos todos loucos!
- Amélia!
Abri logo a camisa de Naim. Os meus cabelos roçavam naquele peito morto. A pele ainda mostrava aquele viço acobreado. Vontade de despi-lo todo e deitar-me em cima, trazer Naim de volta...
Eu não sou cristã. Ouçam bem, que tenho algo a dizer. Sempre gostei de ver os grilos cantando alto, com aqueles galopes vorazes. Não é só amor que tenho por Amélia, pois podem ter certeza que não estaríamos juntas se fosse só amor calmo, que descansa à noite. Por Naim também.
Naim morto inclina-me toda para ele, mas também adoro Amélia. Quem diria, penso e puxo forte os cabelos de Naim, desço as mãos. Com o bico do dedo toco a clavícula – ossos fortes. Nunca mais terei aqueles olhos que ele fazia, fechando agitado, quando eu chupava aquele pau atrevido. Nunca mais. Meu rosto enrubesce todo quando penso no que é Naim morto.
- Valéria, você me obrigou. Desculpa, você me obrigou... Que depravada é você!
O rosto de Amélia também está vermelho. Será que ela quer também atirar em mim?
Queria que Naim acordasse, que levantasse como se a morte só fosse um sono, um cochilo. Eu iria ficar de joelhos na frente dele e sugar aquele cajado até que esporrasse em todo o meu tapete, rosando-o.
Senti um ódio enorme de Amélia, com aquela saia se arrastando pela sala. Minha mulher com aquela arma tão exata, tão certa do que fez. Ela balançava a cabeça e me olhava com repugnância.
- Era só um menino, Amélia!
- Você fodia com o meu sobrinho! Tem idéia? O meu sobrinho, o menino do mato, das vacas. Não tem vergonha na cara? Com um menino.
- Olha o seu crime...
Eu a deixei ver Naim. Ela foi andando - aquela odiosa saia!
- Vê?
Ela tinha os cabelos claros e lissísimos.
- O que a gente faz agora?
Amélia não esperou resposta, foi-se para a cozinha.
Eu não gosto de homens, só de Naim. Na verdade, nunca o vi como homem, mas sim como o menino que era, daqueles que ejaculam rápido, daqueles que ainda não sabem meter. Ele tinha toda uma ignorância que me encantava, um frescor, e uma parvoíce que nunca vi aqui na cidade.
O corpo de Naim, como era tenro! Começo a rir, ainda bem que Amélia está longe. Imagine que ele se depilava todo para mim! Eu pedia e ele fazia, ele era todo flexível.
Arranquei a camisa. Meu Naim! Eu começo a abraçá-lo. Tanto sangue, meu Deus! Quando eu tinha dezesseis anos fiz um corte nos pulsos, não sangrei tanto como Naim. Corri com desespero para a Inara que era uma mulata velha, e ela dizia: “Menina, o que fez? Menina pra que isso? Que desgosto sua mãe vai sentir!” . O pronto socorro era pertinho de casa. Eu sempre morei na cidade.
Fiquei com ele por horas, com a minha boca manchada daquele sangue, eu adormeci com o corpo já duro de Naim.
A campainha tocando. Acordo. Não, não posso atender. Um corpo na minha sala, no tapete e a luz toda acessa. Como vou abrir a porta? Quem será?
- É pra mim, Valéria.
Ela abriu a porta elegantemente. Alguns homens entraram, todos surdos, não queriam conversa. Eles levaram Amélia.
- Eu liguei pra a polícia, amor. Estou me entregando. Daria muito trabalho esconder tudo isso. Minha cabeça já estava doendo terrivelmente.
Passei as minhas mãos com sangue sobre a saia de Amélia, depois no rosto. Ela saiu silenciosa enquanto outros homens olhavam para o corpo.
- Naim morreu bonito.
E eles me olharam mudos.
2 comentários:
Morreu bonito nada, morreu feio, desgraçada da mulher ¬¬ mas ficou lindo o conto
Desgraçada nada! Olha o respeito com as minhas personagens! rsrs...
A Valéria e a Amélia são duas coitadas. A Amélia sobretudo. A Amélia foi burra, somente - foi um crime passional...
E a Valéria tem a carne fraca, tadinha...
E nem digo nada quanto ao Naim. Ele era encantador! Foi essa a culpa dele.
hehehe...
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